Movimento de arte contemporânea: net.art
Movimento de arte contemporânea: net.art | Tendere
Você sabe o que é net.art?
Trata-se de um dos (vários) movimentos de arte contemporânea. A net.art (se escreve assim mesmo, com um ponto no meio), apareceu tão logo a internet comercial chegou à vida das pessoas comuns, no início dos anos 90, revolucionando para sempre a nossa forma de comunicar e interagir com o mundo.
O termo nasceu do artista esloveno Vuk Cosic. No Leste Europeu logo após a queda do Muro de Berlim, a internet era vista como o grande vetor de liberdade e conexão com o mundo exterior pelos jovens daquele país – por isso vários artistas precurssores são de lá, como o próprio Cosic e a russa Olia Lialina. Certo dia em 1995, Cosic recebeu um e-mail de um desconhecido todo em códigos ASCII (um tipo de código binário), incompreensível, no qual no meio só era possível ver “net.art”. Virou o nome do movimento.
Mas obras de net.art já estavam sendo feitas antes de o movimento ser batizado. O inglês Heath Bunting (mais conhecido por seu site, Irational.org) criou em 1994 uma intervenção na estação Kings Cross em Londres. Ele publicou num site na internet a lista com os números de todos as cabines telefônicas que ficavam na estação, convidando as pessoas a telefonarem para esses números a determinada hora do dia e dizer algo a qualquer hora do dia. A intervenção virou uma “sinfonia” de telefones tocando em plena estação movimentada, mudando a rotina daquele espaço social.
Bunting é um dos artistas da net.art que defendiam o ativismo. Alguns deles misturavam essa ideologia ao ser um hacker (observação: hacker no sentido original quer dizer alguém que pode fazer um computador fazer qualquer coisa, e não um indivíduo mal intencionado que prejudica usuários e empresas na internet), gerando assim o hacktivismo. O coletivo etoy é um exemplo. Em 2000, havia uma grande loja virtual
Outros percurssores da net.art, já em 1994, foram a dupla Joan Heemskerk e Dirk Paesmans do jodi.org, radicado na Espanha. Heemskerk e Paesmans passaram dois anos no Vale do Silício e voltaram à Europa para criar sites da internet que eram obras de arte. O jodi.org ainda fez alguns trabalhos com software art (a obra de arte que não é um site, mas sim “baixada” e instalada no computador) e com games online. A questão do jodi.org é trazer a visualidade do código HTML – a forma de codificação mais comum na internet), que sempre fica oculta atrás da interface de sites e programas de computador, para a vista do usuário. Eles continuam ativos – uma de suas últimas obras de arte foi um aplicativo para iPhone (veja no link: http://zyx-app.com/)
A identidade pessoal na internet foi outro tema bastante discutido por net.artistas. O site mais célebre desse gênero é o Mouchette.org. Mouchette é uma pré-adolescente fictícia, mas também o nome do coletivo holandês que o criou – a obra também chama a atenção para não haver diferença entre um artista e uma obra de arte. Hoje, ocultar-se atrás de uma identidade na internet se torna cada vez mais difícil, tal é o avanço da tecnologia em captação de dados dos usuários. Mas podemos pensar em como podemos alterar (para melhor, é claro) nossa própria persona em mídias sociais na internet, mostrando só o que queremos mostrar.
Propriedade intelectual é o último dos mais importantes´temas discutidos na net.art. O coletivo 0100101110101101.org criou o site life_sharing em 2001, que consistia em passar todos os arquivos do hard disk do coletivo para um site da internet (em código HTML), que poderiam ser reproduzidos por qualquer um.
Aqui na Tendere, estudamos detalhadamente arte contemporânea porque ela é a primeira a dar indícios de tendências. É importante conhecer e ter repertório para analisar esses movimentos e ver de que forma eles podem contribuir para a pesquisa de tendências. Além disso, explorar cada “micromovimento” da arte contemporânea é uma experiência à parte – e vale a viagem.
Vivian Berto